Nasci em uma família paulista de leitores vorazes na década de 80. Meus pais eram cultos, politizados e tinham a leitura como um dos principais hobbies. E um livro de pano, de quatro páginas, foi meu primeiro brinquedo. Não tinha texto, apenas imagens coloridas de um garotinho, sua casa, seus bichinhos e sua família. Guardei-o até o dia em que minha primeira filha, Maria Clara, nasceu. Foi seu primeiro livro também, assim como foi o meu. E depois passou às mãos da minha segunda menina, Maria Eduarda.
Minha infância decorreu-se em um mundo sem internet. As pesquisas escolares eram feitas com o auxílio da Barsa, que ocupava parte da estante de livros da biblioteca da casa de meu avô Amaury. Além das enciclopédias, o jornal impresso era uma das maiores fontes de informação. Todos os dias, o porteiro deixava a Folha de S. Paulo no hall de entrada da nossa casa. Pegar o jornal e folhear durante o café da manhã era a primeira atividade do meu pai. Aos Domingos, chegavam à porta da frente as revistas semanais de atualidade e, uma vez por mês, recebíamos as publicações mensais com imensa alegria (minha Capricho, as femininas da mamãe, e as de turismo para toda a família).
Todas as noites, após os telejornais, minha mãe lia para mim e meu irmão antes de dormirmos. Fui apresentada ao universo do Sitio do Pica Pau Amarelo, às obras de Ziraldo, de Ana Maria Machado, Ruth Rocha e aos maravilhosos contos de Grimm. No Dia das Crianças, minha mãe mantinha uma tradição criada por ela de nos presentear com um livro e uma Banana Split do Restaurante América. E nós amávamos. Entrar na livraria, percorrer as estantes, sentir o cheirinho de livro novo e poder escolher sozinha o que levar para casa era um prazer e tanto. Eu começava pelos corredores mais vazios e mais distantes da porta de entrada, motivada pelo sonho de um dia encontrar, dentre tantas obras, um livro mágico, como o da “História Sem Fim”.
Quando eu já estava no ginásio, tinha dois grandes passatempos: o primeiro era contar aos meus diários tudo o que se passava na minha vida. Entre textos sem muito interesse, meus pensamentos eram ornamentados com papéis de bala, bilhetinhos de amigas, fotos de “colírios” (como a Capricho chamava os modelos bonitos), adesivos e tudo o mais que pudesse ser colado com Pritt. Já o segundo passatempo era decorar poesias conhecidas de Pessoa, Camões, Manoel Bandeira, Cecília Meireles, e declamar aos fins de semana para a minha avó Rosa quando a visitava no interior de SP. Os olhos dela se enchiam de orgulho! E ela pedia “declama aquela”, “declama esta”. E lá ia eu interpretando grandes poetas. E o que de lá decorei, ainda hoje permanece em minha memória. Cada palavra, cada rima, cada estrofe.
Assim, na adolescência ler já era um hábito adquirido e eu amava descobrir novos livros, autores e histórias para guardar no coração. No colegial, conheci os gigantes brasileiros: Machado de Assis, Drummond, Clarice Linspector, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Graciliano Ramos, Jorge Amado, entre outros. E inspirada por eles, caprichava nas redações da professora de português, recebendo recadinhos nas correções que acariciavam o ego.
E tendo crescido num mundo cheio de letras, e com a vontade no coração de mudar o mundo, cursei Jornalismo. Nas salas da Cásper Líbero, tive o privilégio de ter aulas com grandes professores, que me colocaram nas mãos os livros mais complexos e filosóficos dos pensadores imortais da Humanidade: Kant, Descartes, Hegel, Marx, Nietzsche, Satre, Santo Agostinho, Aristóteles, Platão, Simone de Beauvoir, dentre outros.
Mais tarde, casei com Eduardo – um advogado tributarista que também veio de uma casa em que se discutia à mesa do jantar sobre o mundo e seus acontecimentos. Como eu, também um grande leitor. Enquanto prefiro os clássicos, ele se interessa pela psique humana, seus devaneios, artimanhas dos pensamentos e vãs filosofias.
E foi a necessidade de conversar e trocar ideias sobre livros, quando se houve cada vez menos as páginas de bons volumes serem citadas nas rodas de conversa entre amigos, que me levou ao desejo de criar um espaço que fomentasse a leitura, aliado a uma outra de minhas grandes paixões – as viagens.
Sendo assim, “Caminhos Literários” surgiu para inspirar não só aqueles que “leem até com os ouvidos”, parafraseando o jargão do podcast 451MHz, mas também para aumentar a curiosidade e incentivar quem tem vontade de adquirir o hábito da leitura e não consegue por falta de tempo, ou dificuldade de se desconectar do mundo online. .
E terminamos aqui com uma frase de Mario Quintana, de quem gosto muito: “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.
Sejam bem-vindos! E boa leitura!!
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